“Dai-lhes vós mesmos de comer’ (Mt.14,16) - Comunhão na palavra, fevereiro de 2023




Comunhão na palavra, fevereiro de 2023
“Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt.14,16).

Dom Sebastião Bandeira: Existir pessoas que passam fome entre nós, é uma vergonha, é um pecado que brada ao céu.

Uma coisa incomoda o meu coração de pastor. Quando ouço os dados a respeito da situação de pobreza do nosso estado em relação a outros do Brasil. O Maranhão é o estado onde grande parte da população vive o risco de passar fome ou passa fome mesmo, alimentando-se de maneira inadequada e insuficiente, abrindo as portas para o organismo adquirir doenças, diminuir a capacidade de trabalhar e morrer mais cedo. Em 2021, durante a pandemia, 57,90%, isto é, mais da metade da população, ganhava mensalmente, menos do que um salário mínimo. O Maranhão concentrava o maior percentual de trabalhadores informais (64,9%) do país. A fome em nosso estado atinge mais as mulheres e a raça negra, como resultado de toda a nossa história. Esta situação de fome também está ligada ao analfabetismo, sendo que somos o quarto estado em número maior de analfabetos, com 15,6% sendo que a taxa do país é de 6,6%. Como Igreja que quer ser servidora da humanidade, estes dados devem nos questionar o que fazer para superar esta situação preocupante e como fazer pastoral nestas circunstâncias.

“Dai-lhes vós mesmos de comer’ (Mt.14,16)

Diante da multidão com risco de passar fome, Jesus ordena aos discípulos para que busquem uma solução para aquele problema. Diante deste desafio, procura-se partir do pouco que se tem, “os cinco pães e dois peixes”, busca-se organizar o povo em grupos, invoca-se a bênção de Deus e partilha-se com a multidão o resultado conseguido. Constata-se que a fome nossa de cada dia é o resultado de um processo econômico, político e social que criou desigualdade, concentração de riqueza e ainda está destruindo a natureza com graves consequências para o futuro. Estamos produzindo muita soja, exportando minério de ferro em locomotivas gigantescas, crescendo nos rebanhos bovinos, mas não produzimos alimentos suficientes para a nossa população. Reconhecemos com pesar que muitas pessoas produzem somente o básico para sobreviver, mesmo morando no interior. Os conflitos agrários têm continuado desestimulando as pessoas a ficarem em suas terras, mesmo nascendo e se criando no lugar. Não existe uma preocupação para realizar experiências positivas viáveis na produção de alimentos por parte dos governos municipais, partindo da educação agrícola e ambiental.

“Dai-lhes vós mesmos de comer’ (Mt.14,16)

Este pedido de Jesus, é para cada um de nós e para nossa comunidade. Existir pessoas que passam fome entre nós, é uma vergonha, é um pecado que brada ao céu. É um mal possível de ser erradicado. É preciso mudar a mentalidade egoísta que se expressa no ditado ‘farinha pouca, meu pirão primeiro’. Não deixemos que a indiferença tome conta de nossa vida. As ações caritativas serão sempre necessárias, mas não devem se tornar permanentes com as mesmas pessoas. É preciso tomar medidas que ajudem a erradicar as formas variadas de fome em nosso redor: de alimentos, educação, saúde, justiça e beleza. É urgente dar prioridade a assistência as comunidades rurais não só realizando a celebração dos sacramentos, mas ajudando na união e na organização dessas comunidades, para que tenham os títulos de suas terras e possuam meios para melhorar a qualidade de vida de seus membros. Mas sempre lembremos, que o nosso principal serviço é ajudar o povo a manter-se unido, a conservar o espírito da partilha, cuja fé em Cristo e a vivência da Palavra são fundamentais para alimentar a fome mais profunda do ser humano, que é fome e sede de Deus. Que esta Campanha abra as nossas mentes, o coração e as mãos, para que tenha pão a quem tem fome e fome de justiça a quem tem pão.

Seu amigo D. Sebastião Bandeira.


Dom Sebastião Bandeira



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1 Comentários

  1. A fome permeia na sociedade por falta solidariedade e senso desumano. A ganância do ter destrói até mesmo as riquezas naturais em que muitos dependem do alimento da terra. O desamor permeia entre a sociedade que pelo egoísmo acumula tesouros em uma desigualdade de causar indignação. Façamos a nossa parte e dêem afeto, pão e amor.

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